Estou para escrever este post há mais de dois meses e finalmente hoje, consigo sentar-me, em silêncio, e dar toda a atenção que este assunto merece :).
Como já falei aqui no blog e partilhando algumas palavras do terapeuta Karlton Terry o parto é um momento traumático para o bebé. Seja parto vaginal natural, parto vaginal intervencionado ou cesariana. 
A verdade é que há formas de nascer mais traumáticas do que outras e há formas também, que estão ao nosso alcance, para minimizar os traumas do parto no bebé.
 
Sabendo já o impacto que a forma de nascer tem em toda a vida do novo ser e como essas memórias ficam profundamente marcadas nas suas células, de que forma podemos minimizar este trauma ao longo dos primeiros meses de vida do bebé?
 
Sabemos que a Cesariana é uma cirurgia que salva vidas. E tanto salva a vida do bebé como da mãe. Isto é inegável e toda a vez que apetece "crucificar" a Cesariana, é bom que nos lembremos disto!
A verdade também é que muitas vezes recorre-se a Cesariana sem haver risco de vida e aí sim, é bom repensar nas nossas escolhas enquanto mulheres, mães, cidadãs, profissionais de saúde, e em última instância, Humanidade. 
 
Que diferenças existem entre os bebés que nascem de Cesariana e de Parto vaginal?
Como Karlton Terry diz "Partos muito difíceis, com muita intervenção ou cesarianas podem provocar traumas maiores. A forma como uma pessoa entra num novo contexto da vida ou numa nova experiência (novo emprego, local desconhecido, novo grupo, uma palestra) será sempre comparada à experiência do nascimento. “Enquanto o bebé negocia com as pressões e transições do nascimento, as conexões cerebrais criam um programa que padroniza impressões e respostas, que afetam o seu cérebro e o comportamento. É uma espécie de programação induzida pela experiência formativa do nascimento que, como um modelo, influencia e desenvolve o cérebro e os padrões de comportamento dos bebés”.
 
"Muito crítico do número excessivo de cesarianas desnecessárias, Karlton Terry atribui também uma extensa lista de consequências psicológicas relacionadas com tipo de nascimento: “É chocante para o bebé ser posto fora da barriga sem percorrer o seu próprio caminho. Por exemplo: na escola, vão ser alunos que pedem ajuda mesmo quando não precisam, pois estão habituados a receber sempre ajuda. São mais defensivos em relação ao toque. Têm mais problemas de intimidade e sexuais”."
 
Se nos colocarmos no papel do bebé, criando empatia com ele, conseguimos sentir isto?
No caso de Cesarianas Electivas, em que o bebé não manifestou ainda sinais de que está pronto para nascer, de repente vê o seu ninho protegido e protector completamente exposto, vê-se arrancado do seu lugar seguro que o acolheu durante 9 meses, vê-se agarrado por mãos que não conhece, exposto a uma luz intensa que nunca viu, numa temperatura que nunca sentiu. 
Como acham que ele se sente?
O bebé que nasce de Cesariana não passa pelo canal vaginal, certo? Não é espremido nem sente a sua força interior de "fazer força". Ele simplesmente é retirado, sem fazer nada por isso.
A nível emocional e comportamental (ainda que inconscientemente) será uma criança e um adulto que espera que as coisas aconteçam, que não reconhece o seu valor, a sua força interior, a sua capacidade para fazer acontecer.
E quando este parto acontece, o que podemos nós, mães, pais, doulas, terapeutas, tias, avós, fazer para minimizar estes danos?
Há já várias formas de trabalhar terapeuticamente estes traumas, no entanto, o objectivo desta partilha é informar os recém-papás a, desde logo, intervir terapeuticamente com o seu filho.
O que fazer para minimizar o trauma de Cesariana, no bebé?
> Massagem e Colo:
O bebé deve ser tocado, através de um toque que o faça sentir aceite, amado e bem recebido, porque muitas vezes estes bebés podem nem saber bem o que aconteceu e o que se passa.
Deve ser massajado em todo o corpo e principalmente na cabeça, ombros e braços como se o bebé estivesse a passar num túnel. Massajar ligeiramente mas com algum foco na forma que estamos a dar ao corpo do bebé, porque como o seu corpo não foi espremido, estes bebés não têm muita noção dos limites do seu corpo;
 
> Comunicação e Reforço positivo:
Como as crianças que nascem por cesariana tem presente, de uma forma ou de outra, o sentimento de incapacidade, é importante dar reforço positivo, elogiar, dizer quando faz bem, e dizer que, quando faz mal, ele consegue fazer melhor - incentivar para que não desista.
O bebé deve ser elogiado desde sempre, em coisas pequeninas - por exemplo, se está com dificuldade a fazer cócó e consegue fazer, deve ser reconhecido. Ou se tem dificuldade em mamar e consegue mamar, por exemplo.
Enquanto bebés pequeninos, este reforço deve ser feito recorrendo a frases especiais e rítmicas que sejam o mantra de cura da cesariana. Cada pai e cada mãe deve, olhando para o seu bebé, identificar a sua, mas ficam aqui algumas sugestões da Doula e Terapeuta Yolanda Castillo:
- "Tu.....és um menin@ especial, um ser único e maravilhoso"
- " O menin@ têm magia no seu coração, e com ela consegue realizar  todo o que ele quiser".
- " Eu sou um menin@ feliz e corajoso, consigo mexer o meu corpo, e tornar as coisas mais facéis"
Estas podem ser utilizadas com bebés, desde recém-nascidos até aos 3 anos, depois podem ir modificando-se e cada casal constrói as suas próprias. 
 
> Terapia Sacro craniana
 
Como vêm há algumas coisas simples que podemos fazer e que estão ao alcance de todos para minimizar os efeitos de nascer de Cesariana. O primeiro passo é, claro, identificar que estes bebés têm necessidades diferentes de outros bebés. Estar atenta e querer colaborar com o nosso bebé, aceitando o seu percurso de vida, aceitando a sua escolha. 
E como a terapeuta Xuxuta Grave diz "Sobretudo respeitar que um bebé que nasceu de cesariana terá desafios diferentes de um outro que nasceu pelo canal vaginal, e isso não tem que ser mau nem bom, mas aceite. Mais tarde terão que trabalhar e reconhecer o seu poder, a sua força, a sua capacidade de autonomia, e os seus limites, as suas fronteiras."
 
[imagem de http://birthwithoutfearblog.com/2011/09/07/how-to-avoid-an-unnecessary-cesarean-section/
MUITO MUITO GRATA pela colaboração de Doula Yolanda Castillo, Doula Luísa Condeço, e Xuxuta Grave]
 

Começo este post com este vídeo e com esta partilha. O blog "Do seu pai" foi descoberto por mim há uns meses e é das leituras mais ternurentas e mais emocionantes que tive o prazer de assistir. O rol de emoções que este senhor desperta em mim é surreal e eu transformo-me com as suas palavras, com as suas homenagens constantes à vida que escolheu, à mulher com quem partilha essa vida e aos filhos que a preenchem. Vale muito muito a pena! Vejam :)

O que é VBAC? 

As siglas são de Vaginal Birth After Cesarian. O parto vaginal depois de cesariana. Foi em 1916 que surgiu um artigo ("Uma vez cesariana, sempre cesariana") cujo título condicionou as nossas ideias sobre a possibilidade que existe de ter um parto vaginal após ter sido feita cesariana. Nesta altura a incisão era feita verticalmente e o risco de ruptura uterina era grande. Actualmente, com a incisão baixa segmentar a ruptura é reduzida.
O sucesso de VBAC é cerca de 60 a 70% e é mais alta em situações em que a cesariana anterior foi feita por: 
- falha na evolução do trabalho de parto
- desproporção cefalopélvica - uma vez que isto tem a ver com o tamanho da cabeça do bebé e a forma como se encaixa na pélvis durante o trabalho de parto
- "cesariana anterior" - isto porque há variadíssimas indicações para cesariana que nem sempre correspondem à necessidade real.
Se a mulher tiver entrado em trabalho de parto na cesariana anterior é uma grande mais valia para o sucesso do VBAC uma vez que o corpo da mulher já se preparou para o parto com receptores de oxitocina.

Porque há risco de ruptura uterina no VBAC? E qual é o risco?

Já que foi feito um corte no útero, houve cicatrização e fibrose, pode haver ruptura nessa zona durante as contracções uterinas. 
No entanto, o risco de ruptura se o parto NÃO FOR INDUZIDO é de 0,5%. Se o parto for induzido o risco aumenta 15 vezes, para 7,5% já que a oxitocina sintética leva a contracções mais fortes do útero e irregulares. 
É importante também saber que quando há ruptura uterina, esta acontece por pequenos rasgões e não por ruptura completa. Estudos indicam que a relação risco/benefício é positiva.
Outro factor importante a ter em conta é o NÃO USO de anestesia durante o VBAC. A mulher precisa de estar conectada com o seu corpo e totalmente sensibilizada. É preciso estar atenta à dor durante todo o trabalho de parto e saber se é descontinuada - contracções uterinas, normais ou continuada - ruptura.
Há alguns factores de risco para VBAC que é preciso ter em consideração: indução por oxitocina artificial, a idade da mulher, infecção após cesariana anterior e o uso de epidural ou outro tipo de analgesia.


Na minha opinião a mulher deve estar totalmente informada de todo o processo VBAC, riscos associados, benefícios de ter um parto vaginal e estar confiante no processo. Ir a medo para um VBAC não me faz sentido. Por isso a mulher deve procurar apoio informativo e emocional para se preparar para este tipo de parto. Colocar questões a si própria como, por exemplo:
- como eu nasci? 
- acredito que é possível o meu bebé nascer de parto vaginal?
- acredito que sou capaz de ter um parto vaginal?
- sinto medo de....


Podem ler mais aqui e aqui  e aqui. :)


E uma vez mais este post arrepia-me. É dos mais comoventes que já li. Eu, que nasci de cesariana porque as minhas irmãs mais velhas nasceram de cesariana. Eu que posso dizer a mim própria "Catarina, eles não fizeram por mal".

"eles não fizeram por mal.
O médico que disse à sua mãe, em julho, quando ela estava com apenas quatorze semanas de gestação, que deveria "marcar logo o parto para o dia 1º de janeiro de 2014". A vizinha que, no elevador, afirmou que "no caso da sua mãe era pior". O casal que perguntou, todos os dias: "para quando é?". A moça do laboratório que insistiu, três vezes seguidas, queria saber se era isso mesmo, se havia entendido certo que "sua mãe vinha de duas cesáreas e agora decidiu por um parto normal". Todas as médicas plantonistas do Hospital São Luiz que, no último domingo, fizeram questão de demonstrar sua "preocupação" pelo "histórico" dos últimos partos da sua mãe. Nenhum deles fez por mal, filha.

Chegamos no hospital às 8h e enfrentamos uma legião de caretas, resmungos, cochichos e, por fim, má vontade. Mas aí, filha, já era. Você tinha decidido nascer. E sua mãe tinha decidido ter um parto natural. O momento DELA.
Apenas a sua mãe, naquela sala, poderia fazer o que fez. E fez.
Nasceu você.
O seu nascimento, filha, é a morte da descrença, do medo, da inércia, do pessimismo. Você nasceu para a gente se despedir do controle. Parir é perder o controle. Perder o controle é viver em paz. Sua mãe nos deu você, você nos deu a paz. Obrigado, filha."

[Obrigada Pedro, por este texto MARAVILHOSO. Parabéns pela escolha, parabéns pela coragem, parabéns pela confiança, parabéns pelo AMOR.]

[adaptado do "Manual de Doulas" da Doula Maria Luísa Condeço
texto e vídeo retirado de http://www.pedrinhofonseca.com/]

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