Bom dia!!
Ontem, em conversa com uma mulher e mãe que teve a sua bebé em casa e que fez preparação para o parto com uma doula, apercebi-me, uma vez mais, da minha missão de doula neste momento específico da minha vida.
"E tens acompanhado grávidas?"
Não. Tenho espalhado informação! Tenho divulgado o que tenho aprendido. Tenho contribuído para escolhas conscientes! E uau!! Que trabalho este :)
Neste momento sinto que o meu contributo passa por dar informação às mulheres, divulgar conhecimentos para que estas se informem e saibam que podem escolher! Escolher o que quiserem, com total liberdade, consciência e responsabilidade.
Assim, hoje trago-vos informação sobre TÉCNICAS NÃO FARMACOLÓGICAS DE ALÍVIO DA DOR durante o trabalho de parto.
Uma amiga uma vez perguntava-me "Tu acreditas que mudando a percepção da dor, se sente menos dor? " Sim, acredito. Acredito que a dor das contracções faz parte do ritual de nascimento. Não é uma dor que signifique que algo está mal no nosso corpo, bem pelo contrário. Quando sentimos dor muscular no dia seguinte a fazermos exercício físico intenso, tomamos medicamentos? Mas se sentirmos dor de estômago que até pode ser da mesma intensidade que a dor muscular, tomamos ou não? :) E porquê? Uma associamos a trabalho físico, sabemos a origem e é bom! Outra associamos a doença, a qualquer coisa que não está bem com o nosso corpo e queremos imediatamente terminar com esse desconforto. Concordam? Ou não?
Durante o trabalho de parto, acredito que a dor seja MUITO intensa para muitas mulheres mas há realmente estratégias para aliviar essa dor que não passam por medicação.
> Massagem ou toque tranquilizante
O toque na pele induz a produção de endorfinas que são os nossos anestésicos naturais. Para além disto, aumenta também a sensação de bem estar. A massagem durante o trabalho de parto deve ser feita quando a mulher pede (não vamos estar a tocá-la sem ela nos dar essa indicação naturalmente) e com óleos essenciais de preferência sem cheiro uma vez que durante o parto o olfacto está super estimulado.
(Aqui podem ler mais sobre o poder do toque)
> Hidroterapia
A água quente tem este efeito. Quem não gosta de um banho quente ao final do dia para relaxar? :)
E não é preciso ter piscina de parto, um simples duche com água direccionada para as costas e ancas ou mesmo banho de imersão fazem milagres!
> Visualizações
Para muitas mulheres ajuda o facto de imaginar água em cascata ou flores a abrir ou algum sítio relaxante e seguro em que a mulher se sinta confortável e confiante. Imaginar abertura de flores de lótus, por exemplo ajuda, a que a mulher se concentre na abertura do cólo do útero.
> Movimentos rítmicos
A dança ou outro qualquer movimento ritmado ajudam ao relaxamento e à progressão do trabalho de parto.
> Respiração e relaxamento
Quem faz yoga entende este ponto perfeitamente. Quantas vezes não estamos a fazer uma série de exercícios físicos intensos, prestes a desistir, e assim que o foco passa para a respiração, aguentamos até ao fim? Respirar, respirar, respirar :)
> Sons e vocalizações
Para algumas mulheres é importante vocalizar. Muitas vezes têm essa vontade, de abrir a garganta e deixar sair o som, mas "prendem-no". E isso acaba por criar tensão. O facto de estar preocupada com o barulho que está a fazer impossibilita a progressão do trabalho de parto e pode até aumentar a dor. Onde há tensão, há dor, certo?
> Encorajamento e reforço positivo
Mais uma vez comparo esta situação ao exercício físico. Quando falta pouquíssimo para terminar o exercício e estamos quaaase a desistir, o que muda quando alguém nos diz: "Boa! Estás a fazer muito bem, está mesmo quase!"? Este encorajamento, a meu ver, é precioso.
> Uso de rebozo
Rebozo é o nome dado ao pano/lenço que as mulheres mexicanas (originalmente) usam para as mais variadas funções - pode ser para cobrir o corpo, para pegar o bebé ao colo, para transportar o bebé, para transportar as compras....Durante o trabalho de parto o rebozo pode ser usado pela parteira e é útil para aliviar as dores, para movimentar o corpo, para a mulher se agarrar e baloiçar o corpo, etc.
Há vários vídeos que mostram a utilidade do rebozo e formas de usar :)
 
 
> Posições corporais durante o trabalho de parto
Quando temos alguma dor o nosso corpo adapta uma qualquer postura que naturalmente alivia essa dor. Quando magoamos um dedo, qual é o instinto imediato? Apertar, não é? E quando temos dores menstruais? Apetece encolher, manter uma posição mais fetal, sim? Durante o trabalho de parto a mulher deve ser encorajada a adoptar as posições que melhor lhe servirem em cada altura.
(Podem ver mais neste post )
Como vêm, há variadíssimas formas de lidar com a dor e atenuá-la durante o trabalho de parto!
Durante a preparação para o parto é importante falar sobre isto e dar a conhecer à mulher estas estratégias também para aferir quais fazem mais sentido ou não para ela :)
Feliz, muito feliz semana!!
 
[adaptado do "Manual de Doulas" da Doula Maria Luísa Condeço
imagens de http://thejoyofthis.com/2012/02/17/valeries-vbac-an-israeli-birth-story/
http://www.birthingnaturally.net/cn/tool/rebozo.html]


A pergunta é esta: "Porque parto é sinónimo de dor?"
Pessoalmente nunca fui muito de associar o parto a dor, mas na sociedade em que vivemos é muito frequente fazermos esta associação. Com a palavra "parto" vêm também palavras como "medo", "dor" e "sofrimento". 
Quantas histórias de parto já ouviram? Quantas foram positivas? E quantas foram  traumáticas?
São muito mais as negativas e assustadoras, não são?

Primeiro, acho que as histórias que se contam contribuem muito para a propagação do medo. As histórias são verdadeiras e não acho que devemos mentir sobre elas, mas é preciso contextualizar que muitas vezes não há trabalho de preparação antes do parto. Não há informação, nem escolhas, nem familiarização com os procedimentos médicos nem o conhecimento sobre a fisiologia do parto. Quando as mulheres chegam ao momento do parto já sentem tanto medo pelo que o ouviram, pela dor que hão-de sentir, pelo processo desconhecido pelo qual vão passar, que o mais provável é que vivam também elas um parto sofrido.

Sugiro então que aceitem o desafio de desconstruir o medo à volta do parto e encará-lo. Vamos?? :)

1. Medo da dor

A dor é subjectiva e varia de pessoa para pessoa. Todos nós temos diferentes sensibilidades e diferentes tolerâncias à dor e por isso o que para mim é insuportável para si pode não ser. É certo que se o corpo está a abrir para permitir a passagem e saída do bebé é normal que se sinta dor. No entanto é bom recordar que o corpo se preparou para esse momento durante nove meses! As articulações  e ligamentos tornaram-se mais flexíveis e móveis, os ossos da bacia foram alargando progressivamente e até a caixa torácica aumentou de tamanho para melhorar a respiração.
A dor do parto é das poucas dores que significa que está tudo bem, que o nosso corpo está a fazer o trabalho certo!
A dor tem uma função fisiológica, sabiam? A dor das contracções permite que haja descontracção entre elas. Como? Experimentem contrair neste momento todo o vosso corpo. Contrai contrai contrai e agora descontrai! Qual é a sensação? :)
A dor permite a libertação de endorfinas que são os analgésicos naturais produzidos pelo corpo e induz um estado alterado de consciência.
Como em tudo na nossa vida, quanto mais combatermos a dor, maior ela se apresenta. Quando estamos com fome, se pensarmos "estou com fome, estou com fome", sentimos mais ou menos a fome? :)
A dor pode ser aceite! A partir do momento em que a entendemos, comprendemos porque existe e para que serve, podemos torná-la nossa aliada em vez de nossa inimiga.
Mais uma vez o ciclo do medo aqui presente: se existe medo, existe tensão e existe dor. Enquanto doulas, se trabalhamos a confiança, a segurança, a informação e o empoderamento da mulher conseguimos quebrar o ciclo, conferindo maior tranquilidade e menos dor.

2. Medo do desconhecido

Quantas de nós conhece o seu corpo? Conhece os sinais e sintomas do corpo? Estamos preparadas para o escutar e atender às suas necessidades? Acredito que cada vez mais nos distanciamos de nós próprias nesse sentido.
É normal ter medo do desconhecido, provavelmente é um dos maiores medos do ser humano. Quando conhecemos sentimo-nos mais seguros e mais tranquilos. Assim é fundamental conhecer o processo pelo qual vamos passar durante a gravidez e parto. Conhecer a fisiologia do parto, saber o que abre, quando abre, o que contrai e porquê, o que acontece ou pode acontecer, o que é normal e não é...enfim, conhecer mesmo o processo pelo qual o bebé nasce. Aqui reside, na minha opinião, uma das grandes mais valias das doulas - fornecer apoio informativo! :)

3. Medo do hospital

O hospital pode ser visto por muitos como um lugar seguro, onde realmente estamos "a salvo", mas pode ser também visto como um ambiente hostil, onde as doenças proliferam e onde a privacidade e o cuidado é algumas vezes negligenciado. 
Para muitas mulheres, só os termos técnicos e os procedimentos médicos são assustadores. Como podem os profissionais de saúde falar de "tricotomia", "episiotomia", "reanimação" sem explicar às utentes do que estão a falar?
Muitas mulheres podem sentir medo da solidão, de ficarem sozinhas na sala de parto, de não puderem pedir ajuda toda a vez que precisam de apoio, de ficarem sem o seu bebé nos braços mal ele nasça...


É muito importante falar sobre todos os medos que possam surgir e preferencialmente durante a gravidez, na fase de preparação para o parto, para que seja possível desmistificar todos os medos e dúvidas e evitar que as mulheres os carreguem até ao momento do parto.

Em suma, acredito sim que a dor é subjectiva, que podemos encará-la em vez de fugir dela. Que podemos preparar-nos para a sentir e arranjar ferramentas de alívio da dor. Acredito também que é essencial que a mulher grávida sinta realmente o local onde se sente segura - se a segurança está em casa porque vai ela para o hospital? Ou o contrário - se a mulher se sente tão segura no hospital porque tenta acreditar que a sua casa é o local perfeito para ter o seu bebé? Honestidade acima de tudo. É tão importante a verdade para que seja possível desconstruir crenças, avaliar preconceitos e alterá-los! 

As doulas têm essa missão. Ser o espelho das mulheres, mostrar o que existe e que por vezes não queremos ver. Tu, tens medo? Assume-o! Está tudo bem! :)


(adaptado do "Manual de Doulas" da Doula Maria Luísa Condeço
imagem de http://www.traditionalwisdom.com.au/blog/category/birth%20preparation)

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