É com felicidade e algum alívio que partilho este artigo sobre Comer e Beber durante o Trabalho de Parto convosco. Finalmente.
Para já, vale a pena introduzir a razão pela qual se chegou à proibição de comer e beber durante o trabalho de parto:
Em meados dos anos 1900, altura em que os métodos de anestesia eram um pouco grosseiros e inseguros, surgiu a “lei” da não ingestão de sólidos nem líquidos durante o trabalho de parto, para evitar as perigosas consequências da aspiração em casos com anestesia geral. E assim foi ficando até aos dias de hoje.
Naturalmente que com o avançar da medicina e das técnicas de anestesia, as consequências da aspiração não são tão perigosas quanto naquela altura e a necessidade de recorrer a anestesia geral é muito inferior. Na verdade, sabe-se já que a aspiração estomacal pode acontecer mesmo em jejum porque há sempre um bocadinho de conteúdo gástrico.
Os estudos realizados mais recentemente (2013 e 2017) concluíram que, a nível de saúde, não há dano nem benefício em restringir as mulheres de baixo risco a consumir ou beber durante o trabalho de parto. A nível de satisfação materna, há grandes diferenças! As mulheres que puderam beber ou comer livremente, sentiram-se muito mais satisfeitas durante o processo do que aquelas a quem foi apenas dado pequenos goles de água.
Sabendo também as necessidades básicas da mulher em trabalho de parto, percebemos claramente como a fome e sede podem atrapalhar todo o processo de trabalho de parto. Se a mulher sente fome ou sede, vai haver naturalmente um aumento de adrenalina. Se aumenta a adrenalina (hormona de fuga e alerta), diminui a oxitocina (hormona do prazer e do amor) e o trabalho de parto abranda, quebra ou estagna.
A restrição da bebida e da comida é também considerado uma fonte de stress e, sabemos que na tríade “TENSÃO-MEDO-DOR”, este é um factor relevante!
Há mulheres e mulheres e cada necessidade é única e pessoal. Há mulheres para quem a fome é muito difícil de suportar. Começam a ficar irritadas, zangadas, impacientes e só descansam e relaxam quando comem. É neste estado que queremos que uma mulher a parir esteja?
É fundamental que os hospitais revejam os protocolos e ajustem à realidade de hoje em dia.
Há já várias organizações que recomendam que mulheres com baixo risco comam ou bebam conforme sintam vontade durante o trabalho de parto:
- The World Health Organization (WHO) (“Care in normal birth: a practical guide. Technical Working Group,” 1997)
- The American College of Nurse-Midwives (ACNM) (“Providing Oral Nutrition to Women in Labor,” 2016)
- NICE Clinical Guidance for the United Kingdom (Delgado Nunes et al. 2014)
- The Society of Obstetricians and Gynecologists of Canada (SOGC) (Lee et al. 2016)
Há ainda algumas organizações que recomendam apenas a ingestão de líquidos claros, como água, chás, sumos e bebidas energéticas:
- The American College of Obstetricians and Gynecologists (ACOG) (Committee on Obstetric Practice, 2009)
- The American Society of Anesthesiologists (ASA) (“Practice Guidelines for Obstetric Anesthesia,” 2016)
As mulheres, por seu lado, também devem informar-se e conectar-se com as suas necessidades. E depois, apresentá-las aos profissionais de saúde que as acompanham.
Aqui está o artigo que explica tudo, tin tin por tin tin > https://evidencebasedbirth.com/eating-and-drinking-during-labor/.