Vou contar-te uma história.[dt_gap height=”10″ /]
“Era uma vez uma mulher em trabalho de parto. Ela sentia o seu corpo e estava atenta ao que este lhe pedia. A dada altura, aquando da epidural, a anestesista pediu-lhe que ficasse quieta, imóvel. Isto era altamente difícil para ela uma vez que as contracções estavam muito fortes e muito, mesmo muito próximas. Esta mulher disse à médica que queria fazer força, que sentia o bebé muito muito em baixo. E a médica respondeu-lhe “Oh, como pode? Pare mas é quietinha.” A epidural foi administrada com algum esforço e dali a 3, 4 contracções máximo o bebé estava cá fora.”[dt_gap height=”10″ /]
Depois do parto, esta mulher perguntava “Como é que a médica não percebeu que eu estava realmente a querer fazer força? Como é que ela duvidou do que eu lhe estava a dizer?”[dt_gap height=”10″ /]
Pois bem, esta história serve para pensarmos um pouco sobre esta questão que acontece muitas vezes e em variadíssimas situações. Como pode a médica duvidar? E como pode não duvidar? O que aprendemos nós? É comum estarmos habituadas a ouvir o nosso corpo? E a respeitá-lo? E as nossas emoções? E a respeitá-las?[dt_gap height=”10″ /]
O facto desta médica não acreditar na mulher só mostra o quanto ela está afastada de si própria, das suas sensações e da sua honestidade. Porque se ela estiver habituada, no seu dia a dia, a ouvir-se e a falar a verdade, ela vai, automaticamente, esperar isso do outro.[dt_gap height=”10″ /]
E quando começamos nós este distanciamento em relação a nós próprias?[dt_gap height=”10″ /]
Quantas vezes desvalorizamos o que as crianças nos dizem?[dt_gap height=”10” /]
“Mãe, tenho dói-dói.” “Não tens nada. Isso não é nada”[dt_gap height=”10” /]
“Estou triste.” “Porquê? Não tens razão nenhuma para isso.”[dt_gap height=”10” /]
“Queres fazer chichi?” “Não.” “Ai queres queres”[dt_gap height=”10” /]
“Não tenho fome.” “Como não tens? Comeste há duas horas, claro que tens fome!”[dt_gap height=”10″ /]
E por aí fora. [dt_gap height=”10″ /]
Começamos desde que são pequenos a dizer-lhes que o que sentem não é verdade. Como podemos fazer isso? Como posso eu dizer a uma criança que não lhe dói? Como eu sei isso? É uma sensação que só ela pode ter. Então é aqui que começamos a desacreditar naquilo que sentimos, e naquilo que para nós, é verdade.[dt_gap height=”10” /]
Se todos estivermos em contacto connosco, com o nosso corpo, com as nossas sensações, com as nossas emoções, com as nossas capacidades e fragilidades, todos nós ganhamos. Porque se eu sou honesto comigo, então eu sou com os outros. E se todos agirmos assim, todos falamos a mesma língua, e todos falamos a verdade. A verdade para cada um. E se eu valorizar as minhas sensações, eu aprendo a valorizar as sensações do outro e estas dúvidas deixam de fazer sentido 🙂
[imagem de http://www.digopaul.com/fa/english-word/hear.html]