Este não é um assunto fácil
Olá 🙂
Depois de alguma ausência deste cantinho tão querido, volto hoje ao blog com um tema triste, assutador e pouco falado.
Quando há uns tempos a minha irmã esteve grávida e dias depois deixou de estar não tive a mínima noção do que aconteceu, pelo que ela passou nem tão pouco o que ela sentiu. Quando meses depois soube que tomava anti-depressivos por causa do aborto que teve fiquei chocada – “meses depois? anti-depressivos?” De repente senti um grito silencioso de SOCORRO. Eu não tive a mínima noção da perda dela. Para mim a notícia de gravidez foi recebida e nem tempo tive para me agarrar a ela quanto mais para sentir a perda.
Hoje venho falar de aborto espontâneo. Nunca vivi um e por isso não consigo sequer imaginar pelo que vocês, mulheres que passam por esta perda, sentem. 
O que sinto vontade de partilhar convosco é uma parte do trabalho que faço de preparação enquanto doula para apoiar estas mulheres. Sim, tu que passas por um aborto, tens direito a ter apoio, mereces ser ouvida e permitires-te chorar 🙂 
Para todas as mulheres, amigas, mães, doulas que queiram apoiar uma mulher que sofreu um aborto espontâneo, aqui ficam algumas sugestões de uma mulher doula que passou por um aborto e partilhou na primeira pessoa algumas coisas que a ajudaram a enfrentar a dor:
Para nunca esquecer, o aborto é um nascimento. Não há nascimento de um bebé vivo, mas há abertura do cólo do útero, há contracções uterinas e pela vagina passa um ovo pequenino, uma placenta mínima e logo de seguida todo o revestimento do útero.
O aborto é muito mais comum do que pensamos. 1 em cada 4 gravidezes resulta em aborto espontâneo e muitas mulheres e muitas famílias, simplesmente, não falam sobre isso ainda que este acontecimento traga uma enorme dor emocional e psicológica.
Enquanto doula, o que posso fazer para apoiar estas mulheres/mães (porque são mães!):
1. Dizer às pessoas do seu círculo de amigos/trabalho/família o que aconteceu. Assim a mulher escusa de explicar vezes sem conta o que aconteceu e cria-se mais respeito em seu redor.
2. Preparar algumas refeições nutritivas para ela e o resto da família deixando-a descansada, menos preocupada e cuidada.
3. Ajudar em algumas tarefas. Perguntar-lhe se precisa de alguma coisa: lavar roupa, lavar loiça, ir Às compras… 
4. Ouvir. Ouvir e ouvir. Basta ouvir e olhar nos olhos. Mostrar-lhe que estou ali, disponível, receptiva, sem julgamento, em amor. Lembrar-me que não é minha função resolver nada. Sou apenas o apoio.
5. Ajudar com as outras crianças da família. Levá-las ao parque, ir buscá-las à escola, ajudar nos trabalhos de casa ou preparar um bolo para o lanche.
6. Ajudar com a manutenção da casa. Limpar a casa ajuda a limpar o campo energético da mulher. Ajuda a sentir-se mais limpa, arrumada e arejada.
7. Perguntar à família se sentem vontade de fazer algum memorial para o bebé. O bebé existiu, a gravidez foi real. Pode ajudar (e muito) honrar essa pequena alma. Pode ajudar não só pelo simbolismo de homenagear a vida que existiu, esse bebé, mas também como ritual de encerramento. Pode ser qualquer coisa simples como um anel, um verso, um quadro, uma passagem de um livro…O que fizer sentido para os pais.
8. Ser paciente 🙂
E eu acrescento ao texto original,
9. Estar atenta ao pai. Creio que muitas vezes o homem fica um pouco fora do processo. Claro que o aborto é vivido pelo homem de forma completamente diferente, mas pode haver dor também e é preciso alguma sensibilidade para não o deixar desamparado. Ele próprio focou toda a sua atenção na companheira, no apoio prestado. Agora é a vez dele de chorar, de gritar, de mostrar os seus sentimentos 🙂
Um abraço muito muito apertado para todas as famílias que vivem estas perdas e uma grande homenagem a todos estes bebés que não chegam a nascer.
[texto original de http://thrivinghomeblog.com/2014/02/open-letter-doula-miscarriage/
adaptado por Catarina Gaspar, com autorização prévia]

All rights reserved © Catarina Gaspar