“Foste tão paciente dentro da tua impaciência”
A nossa Doula Márcia disse-me isto há uns dias e esse foi o arranque para vos escrever, na primeira pessoa, sobre como as nossas crenças e padrões da vida se reflectem no parto.
Para mim fez toda a diferença ter feito trabalho emocional e de desenvolvimento pessoal nestes últimos anos. E o Kundalini Yoga também me ajudou muito no que toca à paciência.
Ensinamos muito daquilo que precisamos de aprender, certo? Estes anos a acompanhar casais e a assistir a partos foram muito importantes para me preparar para minha própria maternidade.
Acompanhar partos fisiológicos, respeitados e humanizados ajudou-me muito a desconstruir as ideias pré-concebidas que tinha e a curar parte da minha história e da minha escolha de ter nascido de Cesariana.
Consigo até fazer relação com cada um dos partos que acompanhei e o nosso Parto. Como se cada um deles me desse algo que eu ia precisar no meu próprio parto (maravilhoso como as coisas são!).
A gravidez foi vivida em pleno e com grande consciência e fui estando atenta aos sinais emocionais que surgiam para, uma vez mais, aproveitar e curar o que estivesse na altura de ser curado/transmutado/integrado.
A Pré-Concepção já me tinha trazido aprendizagens importantes (como escrevi aqui e aqui) mas a mais relevante foi “Saber esperar”. Agora olhando para o nascimento do Vasco faz todo o sentido ter ficado 2 noites e 1 dia com contracções de 10 em 10 minutos, aparentemente, sem grande evolução.
No meu percurso profissional também identifico facilmente a impaciência. Sou ligeiramente impulsiva e a espera por resultados chateia-me e desmotiva-me. Gosto de ver resultados “hoje” e, quando demora um pouco mais, começo a duvidar de mim, das minhas capacidades e o do meu valor.
Ora, qual não é a novidade quando, no meu trabalho de parto, tudo isto se manifesta?
Na noite de Quarta-feira (dia 17 de Outubro) quis ir para o hospital, sabendo que estava numa fase inicial e quando estava a dar perfeitamente conta das contracções e sensações associadas. Quis ir simplesmente porque estava cansada de não ver resultados. Apenas isso.
Foi uma oportunidade que a vida me deu a maternidade estar lotada e mandarem-me de volta para casa. Foi isso que me ajudou a transmutar este padrão e a comprovar que confiar e esperar pelo timming certo é a melhor opção.
Quando a meio da manhã de Quinta-feira (dia 18 de Outubro) voltei a falar em ir para o hospital e o Gonçalo me confrontou, respondi-lhe a verdade “Não sei mais o que fazer. Não está a acontecer nada. Não devo conseguir sozinha.”
O facto dele ter-me encorajado e valorizado o processo e não o resultado final e a Márcia ter insistido para caminhar e apanhar ar, fez-me sentir o caminho percorrido e voltar a confiar.
Durante o trabalho de parto lembrei-me também que tinha sido quando abri mão do prazo e “urgência” em engravidar e confiei no timming e na escolha do meu filho, que engravidei.
Se tinha assim na concepção porque haveria apressar o parto?
Quando tive aquela contracção durante o almoço e senti que tínhamos de ir para o hospital, não foi a mente nem o meu padrão a falar. Foi o meu corpo e o meu filho.
Ter experimentado a paciência no meu trabalho de parto foi das maiores lições que tirei. Porque realmente esperar compensa. Esperar com entrega, com confiança e com amor trouxe-nos este presente maravilhoso.
Este parto humanizado, natural, vaginal e empoderado. Tudo o que eu precisava e queria numa só experiência totalmente indescritível.