E com este arranco da nova semana, vem uma novidade fresquinha: a nova rubrica do blog.
A partir de agora, todos os meses, irei partilhar um bocadinho da história da gravidez e parto de algumas mulheres mães que costumamos seguir nas redes sociais.
Esta ideia surgiu da minha curiosidade em saber mais quando sigo bloggers durante a sua gravidez e no pós-parto.
É inevitável. A “doulice” que me é característica começava a imaginar: “Será que a gravidez foi planeada?” “Será que se preparou para o parto?” “Será que o parto foi feliz?” Posto isto, resolvi pôr mãos à obra e deixar de imaginar as respostas para as saber em primeira mão, directamente de quem as viveu 🙂 Foi uma alegria enorme receber o feedback ao meu convite e saber que nós, mulheres, estamos realmente com vontade de nos entreajudar, de partilhar as nossas vivências para nos podermos empoderar umas às outras.
E este é o grande objectivo desta rubrica. Não (só) alimentar cusquice alheia (ahah) mas, acima de tudo, haver um espaço para partilha, para conversa e para empoderamento.
Então, vamos a isto?
A primeira mãe entrevistada é a Joana, da BAGO KIDS com os baloiços mais queridos do planeta, que teve o seu terceiro bebé há pouco mais de 1 mês.
- A tua gravidez foi planeada? Como te preparaste para a Concepção?
A minha gravidez foi planeada. Não me preparei propriamente, decidimos que era o momento certo para eu engravidar e começamos a tentar. Nas duas gravidezes anteriores fiquei grávida logo no primeiro mês e nesta terceira isso aconteceu no segundo mês.
- Como reagiste quando soubeste que estavas Grávida? A quem contaste?
Quando descobri fiquei felicíssima. Descobrir uma gravidez é sempre um momento especial para mim. Todo o mundo se alinha e pára contigo naquele risquinho tímido que surge. Ou na ecografia que desenha uma pequena bolsa. Contei logo ao meu marido e a uma grande amiga que já sabia que eu estava a tentar engravidar.
- Contaste logo ou resolveste esperar?
Apesar de uma gravidez ser um segredo que apetece gritar ao mundo, gosto de ser cautelosa nas primeiras semanas. Não é muito fácil guardar para mim esta descoberta porque geralmente se nota muito cedo que estou grávida. Ainda assim desta vez consegui relativamente bem guardar a novidade até as 12 semanas.
- Como viveste a tua gravidez?
Uma terceira gravidez vem exatamente com os mesmo sustos e receios das outras. Talvez até um pouco mais. Temos consciência de tudo o que vai acontecendo e os marcos que são necessários atingir. Isso dá um certo frio na barriga mas ao mesmo tempo há uma descontração que existe. Seja por força do ritmo diário, que o trabalho e os outros filhos nos impõem, seja porque há uma confiança maior no nosso corpo, em todo o processo e em como ele se desenrola. Vivi esta minha gravidez com uma alegria enorme, um sentimento de recomeço, mas ao mesmo tempo senti-me muito mais cansada do que em qualquer uma das anteriores. Quando parei de trabalhar senti que pude acalmar o ritmo e focar-me mais neste bebé que crescia a cada dia.
- O que sentes que a gravidez te trouxe? Alguma oportunidade especial?
Ahhh esta gravidez! Esta gravidez trouxe-me a oportunidade de reconquistar a confiança em mim, enquanto mulher e mãe. Além da promessa de um novo começo que cada bebé traz, como diz uma querida amiga minha, foi para mim a esperança que desta vez conseguisse fazer-me ouvir, defender os interesses do meu bebé e meus enquanto mulher, para que todo o processo da gravidez culminasse no parto que sempre achei que devia ter sido a minha única realidade nesta matéria.
- Como te sentiste enquanto estavas grávida?
Foi, tal como a maioria das gravidezes, um misto de sentimentos. Se por um lado estava feliz, plena, tranquila; por outro houve alturas em que estive híper alerta, defensiva, preocupada, angustiada. Sentia que tinha uma missão e não podia falhar.
- Fizeste alguma preparação para o parto? Fala um bocadinho sobre isso.
Fiz preparação para o parto, dita normal, quando estava grávida do meu primeiro filho. Nesta gravidez a minha preparação foi outra. E foi a mais importante e completa de todas as que podia ter feito. Foi a de ler muito, construir dentro de mim alicerces fortes que não deixassem a confiança e segurança, daquilo que eu sabia ser o meu caminho, o meu certo, serem abaladas por elementos externos. Li muito, pesquisei, tive conversas com pessoas maravilhosas, encontros com doulas e enfermeiras parteiras, meditei muito, conversei com o meu bebé, escrevi para ele, fiz acupunctura e tive no final acompanhamento de uma osteopata. Nenhuma das minhas medidas de preparação foram as convencionais e foi neste caminho que encontrei o melhor conhecimento de mim, do meu bebé e do que aí vinha.
- Que conselho podes dar a outras mulheres grávidas sobre a preparação para o parto?
Acho que numa primeira gravidez é uma importante forma de nos conectarmos com a nova realidade que existe na nossa vida e que se aproxima depressa, fazer um curso de preparação para o parto, como os que existem nos centros de saúde ou centros de apoio à parentalidade (uns melhores e mais completos que outros). Mas acima de tudo o importante é conversarmos com quem entende os nossos desejos, os nossos valores, preocupações e medos. Uma doula, um enfermeiro/a parteiro/a, um bom médico com tempo para nos ouvir e responder. E ler, ler muito. Sobre a magia que é estar grávida e sobre a natureza animal do ser humano, para compreendermos o funcionamento natural das coisas, como estamos de forma extraordinária, preparados e desenhados para este papel.
- Como te sentiste com o teu parto? Foi o que tinhas idealizado? Se não, queres partilhar um pouco sobre o que correu menos bem?
O meu parto foi exatamente como o tinha sonhado. Tive um parto natural, desenrolou-se tudo muito muito depressa e cheguei ao hospital mesmo a tempo de ter o bebé nos braços! Senti-me em controlo, tranquila e feliz por tudo acontecer como suposto.
Deixar a natureza guiar-nos é uma coisa muito poderosa. Quando o meu bebé nasceu e ficou em cima de mim, os dois juntos como sempre, o mundo estava todo onde devia estar.
O meu segundo parto foi uma cesariana. Uma cesariana desnecessária, que só aconteceu por pressa e ideologias médicas. Nessa altura vi-me perante um cenário de medo e cedi a uma indução, embora soubesse que era cedo, que não fazia sentido e não era precisa. Que o meu bebé ainda não estava preparado para nascer. Às 39 semanas e 6 dias, o que eu mais temia, acabou por acontecer. Numa cascata de intervenções após indução, o médico optou por fazer uma cesariana. Foi para mim um dia muito triste, a par da vontade de conhecer e ter finalmente o meu bebé nos braços. E esta dor e culpa acompanhou-me muito tempo. Decidi nesse dia que nunca mais deixaria que um médico decidisse por mim aquilo que eu sabia ser o certo. Que ouviria o meu coração e procuraria quem me respeitasse e escutasse. Assim fiz. E esta gravidez foi uma oportunidade também de voltar a sentir-me capaz de fazer nascer um filho. De preservar o elo fortíssimo que existe quando estamos grávidas e que não pode desaparecer após o nascimento do nosso bebé. Este bebé nasceu como eu queria, no seu tempo, no hospital e sem pressões de fora para apressar o que a natureza sabe fazer de forma tão perfeita e mágica
- Tens alguma visão sobre o Parto em Portugal? Há alguma coisa que consideres que pode mudar ou ser melhorada?
Tinha tanto a falar sobre isto… Portugal tem um longo caminho pela frente no que diz respeito à forma como vemos a gravidez, o parto, as mulheres e os bebés. Sinto que já iniciámos este caminho, por isso nem tudo é mau. Mesmo que demore, assistimos a uma mudança de mentalidade. As mulheres estão a fazer-se ouvir e a luz vai entrando. O parto no fundo é sobre uma mulher e o seu bebé. Nada mais. Tudo à volta deve acompanhar esta dança, esta linguagem que é só daquelas duas pessoas, de forma a garantir que se sintam seguras numa das alturas mais fortes e delicadas da nossa vida. Se existir confiança, existe segurança e os médicos terão pessoas disponíveis para colaborarem com eles. Ninguém sabe do seu bebé, como a sua mãe. E as mães também sabem de si mesmas… isto é o que falta perceberem em Portugal. Que não somos só portadoras de um ser humano. Somos as pessoas mais envolvidas com aquele bebé e com a realidade daquela gravidez específica. Oiçam as mães e tudo melhorará. Oiçam os bebés e tudo melhorará.
Muito muito grata à Joana pela partilha tão íntima, pela exposição de temas tão pessoais e sensíveis e pelo testemunho de que vale a pena informar-nos, rodear-nos de pessoas que nos compreendam, que estejam alinhadas com o nosso sentir e com a nossa vontade.
Se tivermos consciência da forma como um parto não desejado ou boicotado influencia a vida da mulher, a sua auto-estima, as suas crenças, a relação com o seu bebé e o seu futuro, estaríamos todos a fazer mais e melhor para que as mulheres se sintam apoiadas, respeitadas e empoderadas neste momento crucial das suas vidas.