O momento em que a conversa chegou ao “Queremos mesmo ser pais?”
A Pré-Concepção tem destas coisas. Aliás, a vida em geral.
Queremos muito uma coisa, preparamo-nos para ela, investimos recursos, energia. Empenhamo-nos para que se concretize e, a vida, na sua sábia maneira, trata de nos mostrar que, afinal, não controlamos absolutamente nada.
Depois de alguns ciclos em que permitimos que a concepção acontecesse, fizemos por acontecer, e não houve, fisicamente falando, presença de bebé, tive oportunidade de olhar ainda mais fundo. Já partilhei convosco que tinha a ideia/ilusão/crença de que engravidaria à primeira. E o facto disso não ter acontecido, para além de me levar a uma confiança profunda e sincera na escolha do meu bebé, também trouxe outras coisas ao de cima.
Os aspectos mais positivos desta espera foram a serenidade, que claramente foi uma surpresa, a fé, a confiança no meu bebé e na vida e a preparação ainda mais precisa e meticulosa de mim mesma e da nossa relação e ligação como casal.
Os aspectos que podemos considerar mais negativos (que não acho de todos negativos) foram a zanga, porque engravidavam à minha volta sem metade da minha preparação e eu não?, a dúvida e o medo de não ser capaz.
A dada altura, enquanto conversava com o Gonçalo, dizia-lhe que queria voltar ao início. Queria voltar a ser apenas eu e ele, mulher e homem. Em vez de estar constantemente a imaginar a mãe e o pai. Precisava de voltar a viver na realidade e no presente (se bem que isto nunca deixou de acontecer) e deixar o futuro no lugar dele.
Voltei a pensar nos nossos filhos como extensão do nosso amor. E para isso, o foco estaria no nosso amor e na nossa relação, aqui e agora.
A dada altura, na conversa honesta e emocionada que estavamos a ter surgiu a questão: “Será que queremos mesmo ser pais?” E a resposta foi ainda mais surpreendente: “Não sei”. E o alívio que surgiu desta pergunta e desta resposta deu-nos tudo aquilo que precisavamos. Afinal podíamos pôr tudo em causa. Não havia problema. Questionar, responder, render-nos à incerteza e ao mesmo tempo à confiança de que tudo está perfeitamente certo como é, foi tudo o que precisavamos.
Partilho convosco isto porque, mesmo vivendo a Pré-Concepção de uma forma muito consciente e querida, é preciso que haja espaço para as dúvidas, para os medos e para as zangas. Aliás, essa é uma das grandes mais valias da Pré-Concepção. Deixar que os fantasmas venham antes de engravidar para depois, quando a benção nos bater à porta (e ao coração), o espaço para os medos ser tão pequenino que nem faz moça.