O meu Parto MARAVILHOSO – Nascimento do Vasco (parte II)
Na senha das Urgências dizia “13h37”. Na espera para a triagem andava em círculos e a falar com o enfermeiro fiquei de pé, apoiada na mesa. O pai tinha ido estacionar o carro e fui subindo para o piso 3. Fui logo chamada assim que cheguei lá acima.
Fizeram toque e “Está de 7 para 8. Vai já para o bloco de partos”.
Chorei! Chorei de alegria e de gratidão! Peguei no telefone e liguei ao pai entre soluços. Ele assustado por me ouvir chorar perguntou o que se passava. “Estou com 8 cm! Era tudo o que queria! Vamos já para o bloco!!”.
As salas estavam cheias e, surpresa das surpresas, só havia o bloco de cirurgia disponível. Isso significava que a cama não era flexível, era extremamente pequena e estreita, que a temperatura da sala era baixa e que fisicamente, tínhamos pouco espaço. Uma confusão logística e eu ali, em pé, agarrada às perneiras da cama. Agachava-me quando vinha uma contracção e deixa as profissionais fazerem o trabalho delas. Para mim estava tudo perfeito. Não me importava que fosse naquela sala nem queria saber para onde iríamos depois. Mesmo ficando no corredor, aquela era a minha experiência de parto e estava a ser tal e qual como imaginei.
Veio uma médica mais velha que disse para me deitar para confirmar se estava mesmo para parir ou não. Deitar-me era realmente desafiante. Ela fez um toque mais bruto do que gostaria e “Poooop”, a bolsa rompeu enquanto ela tocava. Líquido em jacto para o chão. “Ok, está mesmo para parir.”
Voltei a pôr-me de pé e a segurar-me nas perneiras. Uma médica amorosa veio e perguntou se queria Epidural. Disse-lhe que não. Confiante de que estava quase e que realmente não seria necessário.
A parteira Vanessa foi o nosso anjo. Disse-lhe que tinha Plano de Parto e perguntei se estavam disponíveis para o ler, dada aquela confusão logística e de imprevisibilidade. A parteira perguntou-me o que gostava mas que, quase de certeza, era já o que ela fazia. Não ia ter tempo para ler e por isso para lhe dizer naquele momento.
Fui tentando encontrar ordem de prioridades e disse:
“Que o Vasco venha para o meu colo e seja feito tudo com ele lá.”
” Que possa escolher a posição para parir.”
” Que possa ser eu a tirá-lo de mim.”
” Que perguntem ao Gonçalo se quer cortar o cordão, se não, que corte eu.”
A parteira foi dizendo que sim a tudo e acrescentou “Não corto mulheres. Não faço episiotomia.” E eu só dizia “Obrigada! Obrigada!”
Perguntou-me “Então e em que posição te imaginas a parir?” E respondeu-me “Ah, de cócoras? Tragam lençóis para o chão, para me ajoelhar”.
E entre contracções minhas e preparação da sala por parte dela “íamos conversando”.
P- “E fazes o quê? Ah, és Doula? Então és tu a doula que se falava… que estava em casa com contracções…” “E porque quiseste ser doula antes de ser mãe?” – A esta última pergunta já não fui capaz de responder ahah.
Perguntou-me se queria música e o que gostava de ouvir. Pedi para pôr as minhas músicas do telemóvel, os nossos mantras. Ainda ouvi “Ah, tenho de arranjar desses também!”
“E sentes vontade de fazer força? Avisa-me quando sentires.”
E eu achava que fazer força era só mais perto da dilatação completa. Ainda estava nos 8… Mas, de repente, uma ou duas contracções depois, comecei realmente a sentir vontade cada vez que me agachava. Mas como tão rápido? Dos 8 aos 10 não devia ser mais tempo?
“E o Gonçalo onde está? O Vasco não pode nascer sem o maridão aqui.” Dizia a parteira.
Cada vez que abriam a porta eu olhava para ver se era ele. E disse “Vão chamá-lo rápido. Ele não tem noção!!”
Nem eu tinha noção da rapidez do processo, quanto mais ele que estava fora da sala.
E mais uma contracção e mais força. Que sensação indescritível! Tudo nos puxa para o chão. A garganta fecha-se e vai tudo para baixo, todo o corpo se espreme para empurrar o bebé.
“O Gonçalo entrou, ok, posso permitir-me!” Pensei eu!
Nesta altura continuava com as mãos nas perneiras e de costas para a parteira que estava de joelhos no chão. Cada contracção que vinha, agachava-me e ficava de cócoras. Sugeriram que me colocasse de frente para ela e assim fiz. Trouxeram um banco para o pai que se sentou atrás de mim e serviu de apoio para a minha posição acocorada.
A parteira perguntou-me se queria sentir a tua cabecinha ainda lá dentro e senti. Não consegui ter percepção da tua cabeça redonda porque ainda era muito no início da tua descida, mas senti duro e sabia que eras tu. Foi tal e qual como te disse que podia acontecer. Dei-te festinhas e dizia-te mentalmente “É a mãe! São as festinhas de que te falei!”
As contracções eram fortes, longas e eu não sei onde fui buscar tanta força e fôlego. É sobre-humano realmente. O papá dizia “Vai Catas!” e eu no meio das vocalizações chamava por ti “Vaaaassscoooooo”. E tu ias descendo.
Eu dizia à parteira que o meu rabo ia rebentar!! E ela tranquilizava-me dizendo que eras tu a descer! Ajudou-me com compressas quentes no rabo e esteve todo o tempo a amparar-me o períneo. Não sei quantas contracções foram mas voltei a sentir a tua cabeça e a parteira disse que estavas já ali, a coroar.
Vi a tua cabecinha sair, de lado. E vi a tua mão direita na cara. A parteira disse “Agora não faças tanta força. Sê gentil. Doseia a força. Ele vem com as duas mãos na cara.”
Respirei e foquei-me naquelas palavras “Sê gentil!” Ela deu um jeitinho no teu ombro e saiu metade do teu corpo. Estavas virado para mim e eu agarrei-te e nasceste! Eram 14h46.
Estavas escorregadio, quentinho e tinhas expressão e aparência como não imaginava. Tranquilo e sereno sim, mas cabelo preto não. ahah. Trouxe-te para o meu peito e, por mim, tinha-me sentado logo no chão para te contemplar inteiro.
Limpei o teu nariz com as minhas mãos e massajei-te as costas para limpar o que fosse preciso. Fizeste um cócó gigante, em jacto, para assinalar bem a tua chegada. ahah. Rimo-nos todos com a tua grande pintura.
A parteira pediu para subir para a cama para ver o meu períneo e preparar o nascimento da placenta. Enquanto isso era inundada por uma sensação de plenitude e realização.
Estavas ali. Eras real. Eras meu. Tínhamos conseguido aquele milagre. Que benção.
Ficamos a olhar-nos olhos nos olhos. A conhecer-nos. A reencontrar-nos. Choraste um bocadinho na transição mas logo depois acalmaste a ouvir-nos. A ver-nos. O papá estava ali, no meu ombro para o conseguires ver também. Dei-te tantos beijinhos e sentia-me radiante. Que felicidade!
A parteira disse-me que o períneo estava intacto e que ia dar apenas 2 pontinhos nos lábios vaginais.
Depois perguntou ao pai se queria cortar o cordão e ele cortou. Foi bonito de ver.
A placenta nasceu às 15h02. Senti algum sangue ser espirrado e por momentos pensei que houvesse hemorragia. Mas não. O útero contraiu bem e estava tudo certo.
A placenta era grande. Eu não a vi porque não conseguia tirar os olhos de ti.
A pediatra perguntou então se podia levar-te por breves minutos para te pesar e o pai acompanhou-te naquele metro que nos distanciava. 3210 kg foi o peso com que nasceste.
Voltaste para mim e não saíste nas 2 horas seguintes.
Consegui passar sozinha para a cama do recobro, contigo sempre no peito (qual malabarismo, qual quê) e foste amamentado quando chegamos ao quarto. Sensivelmente 30 minutos depois de nasceres. A parteira ajudou-te a fazer a pega porque eu não conseguia ver bem a tua boca dada a posição em que estavamos e tu pegaste logo! Ela até disse “Ah, ele já nasceu ensinado!”. Ficaste a mamar durante 20 minutos, tão lindo e pausado.
Enquanto estávamos os 3 no quarto, sozinhos, o pai tirou a camisola e pôs-se, como pôde, debaixo dos lençóis para fazer pele com pele contigo. Tiramos fotografias deste momento, depois mostramos. Ahah
Liguei a algumas pessoas a contar. Estava tão feliz e radiante que só me apetecia partilhar toda a magia que estavamos a viver.
Que experiência incrível!
Conseguimos meu amor! Grata por me confiares este parto. Grata pela tua força e serenidade.
Assim começou a tua vida na Terra!
P.S. Como, com imensa pena minha, não tenho fotografias do expulsivo, deixo-vos estas duas imagens partilhadas na conta de Instagram @bodywise_birthwise que representam na perfeição o nosso momento.