Como tu provavelmente já tiveste. Como tu tens agora. Ou como tu hás-de ter.
Sei que cada uma de nós traz as suas feridas para trabalhar e sei que há feridas únicas e incomparáveis. Mas sei também que há medos que são transversais a várias pessoas/mulheres e que neste, não estou sozinha.
Desde sempre que sei que quero ser mãe. Talvez o meu propósito maior nesta vida seja mesmo esse.
Quando iniciei a minha vida sexual tive medo de engravidar. Era adolescente, numa relação comprometida mas típica de primeiro namoro e, sabia bem que ter um filho naquela altura estava fora dos meus planos.
Quando conheci o amor da minha vida, a vontade de ser mãe veio em força. Estavamos na faculdade e havia ainda muito para fazer antes de tomar esse passo, obviamente, mas o meu relógio biológico não dava tréguas.
Fui aprendendo a viver com este adiar e focar-me no que tinha ainda para fazer, no que queria investir, na informação que me chegava, nas formações que ia fazendo.
Havia alturas em que lutava internamente para “não pensar em filhos”, em que ficava zangada por ter de esperar que o G. quisesse tanto quanto eu, que me chateava não poder seguir simplesmente a minha vontade do coração e ter de ter os pés na terra e a cabeça no sítio. À medida que fui trilhando o caminho, tudo foi fazendo sentido e aprendi a confiar na Vida e nos seus planos para mim (e para nós). E esta confiança trouxe-me muita serenidade e paz. As lutas internas deixaram de existir. Deixei de pressionar o G. para termos um bebé e comecei a desfrutar da vida como é, no presente.
A Pré-Concepção ajudou-me também a manter-me no caminho. Em vez de querer logo chegar à meta, focar-me no trabalho de preparação que há a fazer.
Quando eu e o G. chegamos a uma sintonia que nos permitiu abrir para a chegada do nosso filho, não podia acreditar. Tanto tempo depois, esta era a realidade.
Tinha uma expectativa escondida. Achava que assim que permitíssemos que o nosso bebé viesse, seria nesse mês.
E não foi. Nem no mês seguinte. Nem no outro. E isto tem-me posto em contacto com um medo que trago. Bem arrumadinho cá dentro. Medo de não conseguir/poder engravidar. Na verdade, um medo que é maior que isto e que me tem acompanhado desde cedo. Provavelmente uma das maiores feridas que trago – Medo de não ser capaz.
A minha mente positiva vai arranjando forma de me motivar:
“Mas já conseguiste tanto. Também achavas que não ias encontrar o amor da tua vida. E encontraste. Também achavas que não ias conseguir assumir-te como Doula e conseguiste. Também achavas que não ias conseguir lançar-te sozinha profissionalmente. E estás a conseguir.
Porque duvidas que consigas engravidar?”
Tenho medo.
Acho que o facto de não falarmos muito nisto também aumenta o medo. Simplesmente porque é desconhecido/tabu. A maioria das vezes sabemos da gravidez quando esta acontece e ninguém partilha “Estivemos 2/6/8 meses a tentar”. Ou ouvimos mais vezes “Foi à primeira” e tendemos a achar que é sempre assim. E que quando assim não é, algo está errado.
Este medo existe em mim e hoje, eu aceito olhá-lo de frente (e verbalizá-lo e partilhá-lo).
Para onde me leva? Provavelmente para a cura desta ferida profunda “de não ser capaz”.
Agora sim, estou pronta para lá ir 🙂