A primeira vez que assisti a um parto tinha 20 anos e não tinha qualquer informação sobre o tema. Quando vi a parturiente deitada, com as pernas para cima e a fazer força para o bebé nascer, não questionei nada.

Mais tarde, quando soube que na posição de litotomia (deitada de costas com pernas elevadas nos estribos) a mulher e o bebé têm de fazer muito mais força para contrariar a gravidade, caiu-me a ficha.

Vi alguns vídeos sobre o tema e levantou-se a questão: “Porque colocam as mulheres nesta postura se não é fisiológico?”

Se formos pesquisar imagens antigas de mulheres a parir, vamos vê-las sempre em posições verticalizadas (joelhos, cócoras, em pé ou sentada).

As mulheres sabiam que a gravidade ajuda a descida do bebé. É uma lei física. É mais fácil um objecto cair do que rolar num plano horizontal. Porque com o bebé seria diferente?

O que mudou até aos nossos dias? Porque as mulheres deixaram de parir em pé? Porque passou a ser norma as mulheres estarem deitadas de costas?

Na posição deitada, para além do bebé ter de fazer o caminho na horizontal em vez de aproveitar a gravidade para encaixar e ir descendo, ainda tem de subir ligeiramente uma vez que o osso do cóccix da mãe está imobilizado. Para a mãe, há mais dor, as contracções uterinas não são tão eficientes, tem de fazer mais força e o risco de laceração do períneo é muito maior. Para além disto, o peso que o útero exerce nos principais vasos sanguíneos da mãe (aorta e veia cava) diminui o fluxo de sangue e oxigénio para o bebé.

Janet Balaskas criou o conceito de “Parto ativo” onde dá poder e responsabilidade às mães para assumirem a postura corporal que mais benefícios tiver em cada fase do trabalho de parto (dilatação do cólo do útero e expulsivo).

Assim, vamos ver 10 razões escolheres uma postura verticalizada (joelhos, cócoras, em pé ou sentada) e movimento corporal durante o parto:

  1. Gravidade – a gravidade coopera com as contracções uterinas e o esforço expulsivo.
  2. Ângulo de incidência do útero – quando o útero está verticalizado ou até inclinado para a frente contrai com menos resistência do que quando está horizontalizado. Isto causa menos dor e consequentemente menos necessidade de analgesia.
  3. Cabeça do bebé no cólo do útero – durante cada contracção uterina o feto tem tendência para se afundar na pélvis materna, aumentando a dilatação do cólo do útero
  4. Melhor circulação sanguínea placentária e oxigenação para o bebé – não há compressão dos principais vasos sanguíneos (aorta e veia cava) da mãe pelo peso do útero
  5. Menor compressão sobre nervos pélvicos e sacro – menos dor
  6. Aumento da área interior da pélvis – mais facilidade para o bebé encaixar e passar. Durante a gravidez há aumento da flexibilidade das articulações o que permite flexibilidade pélvica e sacrococcígea e aumento da área interna até 30% (em posição de cócoras)
  7. Menor pressão directa sobre o pescoço do bebé – melhor controlo da cabeça imediatamente após o nascimento, o que facilita a amamentação (pelo “reflexo de sucção”) e acentua o desenvolvimento motor
  8. Facilita a dequitação espontânea da placenta e reduz o risco de hemorragia
  9.  Menor risco de infecção – líquidos são drenados e há menos retenção de sangue
  10.  Menor risco de laceração e episiotomia – tecidos perineais podem expandir-se livremente e adaptar-se à cabeça do bebé


As razões são lógicas e mais do que suficientes. A menos que haja alguma indicação médica para o contrário, a mulher deve escolher a posição que lhe traz mais conforto e manter-se ativa e protagonista do seu parto.

As novas directrizes da OMS (2018) também sugerem a liberdade de movimento da mulher durante o parto. Por isto, informa-te das tuas escolhas, dos benefícios e, no momento do parto, mantém-te atenta ao teu corpo, ao que ele te pede e assume o comando da tua própria experiência.

adaptado do livro “Parto Ativo”, Janet Balaskas


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